Logo artbmxmagazine.com

Rigor científico na pesquisa qualitativa

Anonim

Ao avaliar alguns artigos relacionados ao tema do rigor do esforço científico a partir do modelo qualitativo, confesso que dificilmente tenho conseguido iluminar o caminho para a compreensão dessa trama. Talvez o complexo tenha sido descobrir uma série de argumentos do ponto de vista ontológico, epistemológico e metodológico, que sustentam vários postulados a esse respeito.

A partir dessa apreciação, pretendo abordar a construção de uma visão generalizada sobre o que significa rigor científico na pesquisa qualitativa, cujo aspecto deve ser alcançado pelo pesquisador se ele deseja que seu produto tenha qualidade e teor científico adequados. Para tal, pratica exercícios de vigilância epistemológica, de forma a garantir que o trabalho realizado se mantém no enquadramento científico, desde a abordagem inicial ao objeto de estudo, passando pela análise e apresentação dos resultados.

Por isso, antes de iniciar esta jornada, devo alertar para as barreiras que os pesquisadores qualitativos tiveram que enfrentar ao se destacarem dos postulados positivistas, que concebem o empreendimento científico sob um único ponto de vista. Por exemplo, com a pesquisa social, a humanidade presenciou o fato de que a ciência deu uma guinada muito importante na forma de conhecer cientificamente os fenômenos estudados, ao não se limitar apenas à manipulação de algumas de suas variáveis.

Essa virada epistemológica tem permitido aos pesquisadores qualitativos uma abordagem efetiva da construção social do conhecimento, uma vez que sua orientação hermenêutica facilita o estudo e a compreensão da realidade onde o ser humano se desenvolve.

Ora, esse emergente desenho de pesquisa revelou o papel fundamental que o pesquisador possui, uma vez que, entre tantos aspectos que devem ser tratados, se destaca a forma de contato com o fenômeno estudado e a perspectiva interpretativa que desenvolve sobre o que vê, ouve. e entende no contexto da realidade que afeta o objeto de estudo.

Dentro desta ordem de ideias, surge o seguinte questionamento: Que elementos deve conter um trabalho de investigação sob a abordagem qualitativa, para se considerar que cumpre os critérios do rigor científico? Nesse contexto e no intuito de gerar algumas contribuições a essa questão, considero a opinião de Lincoln e Guba (1985), citada por Arias e Giraldo (2011):

A investigação naturalística deve ser julgada pela confiabilidade, entendida como um processo sistemático, e pela autenticidade que inclui três critérios, 1) consciência reflexiva da própria perspectiva, 2) apreciação das perspectivas dos outros e 3) imparcialidade em as construções, descrições, representações e valores em que se baseiam (p. 503).

Outra contribuição sobre o assunto é expressa por Ruiz Olabuénaga (1996), citado por Concha, Barriga e Henríquez (2011):

Uma investigação é válida se 'acertar', se 'acertar', se 'descobrir', se 'medir corretamente', se 'atingir o fenômeno' que deseja alcançar, descobrir, medir, analisar ou compreender. A sua excelência será tanto mais notável quanto mais se aproximar desse objeto e maior for a garantia de ter conseguido validá-lo (p. 96)

Por sua vez, Alvarez-Gayou (2003), referindo-se à questão da validade na pesquisa qualitativa, opina: “será preferível e mais descritivo falar da necessidade de autenticidade do que de validade. Isso significa que as pessoas podem realmente expressar seus sentimentos ”(p. 32).

Parece que as opiniões expressas acima convergem na "perspectiva" de que a validade da pesquisa qualitativa está relacionada à cientificidade do trabalho, com base em suficiente explicação epistemológica e metodológica e, claro, à solidez da argumentação exibida durante o desenvolvimento. do processo investigativo, que potencializa com rigor científico os postulados e as manifestações feitas.

Por outro lado, há o aspecto da legitimidade, que se avalia pelos fatores sociais aos quais se dirige a pesquisa e pela comunidade científica em geral, e se expressa no grau de assertividade que seus resultados têm sobre o fenômeno estudado. ou seja, quão correto foi o diagnóstico ou compreensão da realidade abordada, desde que ele ou os pesquisadores qualitativos, no exercício da coerência paradigmática, tenham adotado um desenho de pesquisa e um referencial metodológico alinhado à abordagem onto-epistêmica que exige a natureza do fenômeno a ser estudado e em total harmonia com sua posição científica.

Em outras palavras, a qualidade e credibilidade do trabalho qualitativo, orienta seu alicerce na capacidade do pesquisador em executar um processo investigativo de forma sistemática, consistente em cada uma de suas fases e com evidências científicas suficientes, para demonstrar que os achados alcançados foram produto da observação e interação prolongada com o objeto de estudo e, posteriormente, a execução de análises objetivas e com consciência reflexiva para tentar compreender, interpretar e comunicar as realidades sociais.

Nessa perspectiva, parece indiscutível o papel fundamental que o pesquisador qualitativo deve cumprir, pois, pelas suas qualidades e capacidades, deve estar próximo o suficiente para sentir o que os participantes sentem sobre a realidade estudada mas, ao mesmo tempo, distanciar-se. para não contaminar com a sua própria experiência os resultados das suas pesquisas.

Nessa linha coincidente, encontro Patton (2001), citado por Arias e Giraldo (ob. Cit.), Que afirma: “A credibilidade dos métodos qualitativos é baseada nas habilidades; a competência e o rigor de quem faz o trabalho de campo ”(p. 507). Em suma, a habilidade do pesquisador qualitativo durante o desenvolvimento da pesquisa é transcendental, mas na fase de coleta de dados é um aspecto essencial para a construção dos critérios de rigor científico exigidos. Outro fator de especial importância para a questão da validade é a capacidade do pesquisador de interpretar os fenômenos estudados. Em outras palavras,Trata-se da aplicação da técnica hermenêutica para tentar extrair a verdade de todo o conglomerado de achados obtidos durante o trabalho de campo.

Mas essa perspectiva interpretativa pode gerar polêmica uma vez que todas as informações sobre o fenômeno estudado são processadas por meio do pesquisador. A este respeito, Moral (2006) considera: “Este elemento« interpretativo »que caracteriza a investigação qualitativa confere-lhe grande complexidade, especialmente quando se considera que, ao realizar esta prática interpretativa, podemos transformar o mundo numa série de representações pessoais e enviesadas” (p. 149).

Por isso, o pesquisador qualitativo deve desenvolver seu trabalho com objetividade, integridade e profissionalismo, para apresentar uma visão genuína sobre o fenômeno estudado, tanto a partir dos processos dialógicos realizados com os participantes quanto da observação de seus comportamentos ou no exame de documentos. relacionados, evitando a todo o momento enviesar as informações coletadas com a visão própria do assunto.

Nesse contexto, uma forma de justificar a perspectiva interpretativa é a utilização da técnica de triangulação (como medida de validade interna), na qual são feitas comparações entre as versões fornecidas pelos diversos atores sociais, bem como aquelas expressas por diferentes teóricos especialistas em o assunto estudado e, claro, as opiniões interpretativas do pesquisador. Essas considerações nos remetem ao aspecto ético da pesquisa científica.

Hoje a ética está imersa em todos os aspectos da sociedade, pois por meio dela pode-se desenvolver a convivência cidadã e realizar atividades em qualquer esfera social, sem ameaçar as garantias individuais ou coletivas dos grupos humanos ou de qualquer ser. vida e até a própria natureza.

É assim que a ética deve ser (e é), implícita na execução de todo processo científico e, claro, no modelo de pesquisa qualitativa. A este respeito, Arias e Giraldo (ob. Cit.), Refletem ao observar que: “A visão qualitativa reconhece o papel dos valores e do caráter ideologicamente mediado do processo de conhecimento e atribui ética no processo de pesquisa” (p. 509)

Portanto, com esse nível de avanço que o modelo qualitativo possui, não basta implementar o consentimento informado ou manter o sigilo dos participantes. Neste século 21, quando a pesquisa social está em ascensão, um maior compromisso ético é necessário para continuar a se legitimar como o paradigma de pesquisa mais adequado para compreender ou transformar nossa realidade social.

Portanto, considero adequada e em total sintonia com o fortalecimento de critérios rigorosos na pesquisa qualitativa, a proposta de González (2002), que levanta um modelo de avaliação dos aspectos éticos na pesquisa qualitativa. Aqui está uma síntese.

  • Valor social ou científico. A pesquisa deve representar importância para a sociedade, propondo soluções que gerem o bem-estar da população ou a produção de conhecimento que leve à resolução de seus problemas. Validade científica. Trata-se da abordagem de propósitos claros, da aplicação de um método de pesquisa condizente com o fenômeno a ser estudado e a necessidade social, com a seleção de sujeitos, instrumentos e as relações estabelecidas pelo pesquisador com as pessoas. Seleção equitativa de disciplinas. Certifique-se de que os participantes sejam escolhidos por motivos relacionados a questões científicas. Relação risco-benefício favorável. Justifique plenamente que os benefícios da pesquisa são maiores do que os riscos que ela acarreta. Condições para um diálogo autêntico.Incentive e garanta o diálogo espontâneo dos participantes, evitando forçá-los a assumir posições que não expressem sua própria identidade cultural. Os processos dialógicos permitirão construir a orientação dos interesses do grupo. Avaliação independente. É a orientação objetiva que o pesquisador deve buscar nas informações coletadas, para evitar sua influência nos resultados decorrentes de seus próprios julgamentos. Consentimento informado. O pesquisador deve garantir que os participantes da pesquisa o façam de forma voluntária e com conhecimento suficiente para decidir sobre si mesmos com responsabilidade. Outro aspecto está relacionado ao fato de sua participação no trabalho ser compatível com seus valores, interesses e preferências. Respeito pelos sujeitos inscritos. Esse respeito implica várias coisas:permitir ao participante mudar de opinião ou decidir se a pesquisa está de acordo com seus interesses ou não. Neste caso, você pode retirar sem receber qualquer sanção. Outro aspecto está relacionado à reserva no tratamento das informações. Além disso, implemente um mecanismo para informar os participantes sobre os resultados e o que foi aprendido com a pesquisa. Por último, o bem-estar e a segurança do participante devem prevalecer durante toda a investigação (p. 98).nos resultados e no que foi aprendido com a pesquisa. Por último, o bem-estar e a segurança do participante devem prevalecer durante toda a investigação (p. 98).nos resultados e no que foi aprendido com a pesquisa. Por último, o bem-estar e a segurança do participante devem prevalecer durante toda a investigação (p. 98).

Diante do exposto, pude perceber que existem várias maneiras de construir a validade da pesquisa científica. Com efeito, cada investigador que desenvolve o seu trabalho investigativo, assume a forma de examinar e fundamentar a validade, com base nas recomendações da numerosa bibliografia a este respeito e de acordo com o desenho de investigação, técnica metodológica utilizada e capacidade do investigador.

Outra consideração de interesse que pude observar na revisão documental é que ainda persiste a polêmica entre os modelos de pesquisa qualitativa e quantitativa, o que abrange a questão do rigor científico, observando algumas críticas às formas de apresentar a validade da pesquisa no um ou outro modelo.

No que se refere à revisão documental, é imprescindível que um trabalho investigativo tenha fontes de referência suficientes e de qualidade para contribuir positivamente para a construção de sua validade.

Por fim, como investigador, sempre na procura de gerar conhecimento, concebi a orientação do ensaio para a apresentação de forma generalizada, da importância que o rigor e a profundidade dos aspectos epistemológicos, metodológicos, argumentativos e éticos têm no desenvolvimento da obra de pesquisas que, por si mesmas, fornecem o embasamento científico e consequentemente sua validade e legitimidade universal, uma vez que atendem a critérios irrefutáveis ​​para a produção de conhecimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • Álvarez-Gayou, JL (2003). Como fazer pesquisa qualitativa. Fundamentos e metodologia. Métodos básicos. Ed. Paidós. Mexico Arias, M., Giraldo, C. (2011). Rigor científico na pesquisa qualitativa. Revista de educação e pesquisa em enfermagem. Vol. 29, no. 3, outubro-dezembro, pp. 500-514. Universidade de Antioquia. Colômbia.. Disponível: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=105222406020. Concha, V., Barriga, O. e Henríquez, G. (2011). Os conceitos de validade na pesquisa social e sua abordagem pedagógica. Revista Latino-americana de Metodologia de Ciências Sociais. Vol. 1, no. 2, pp. 91-111.. Disponível: http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3986633. Morales, M. (2006). Critérios de validade na pesquisa qualitativa atual. Jornal de pesquisa educacional. Vol. 24, no. 1, pp. 147-164.Associação Interuniversitária de Pesquisa Pedagógica. Espanha. Disponível: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=283321886008 González, M. (2002). Aspectos éticos da pesquisa qualitativa. Revista Ibero-americana de Educação. Vol. 29, pp. 85-103..
Baixe o arquivo original

Rigor científico na pesquisa qualitativa